Nas últimas semanas, os especialistas e a mídia têm apontado para um cenário real e preocupante, de um problema que se aproxima a passos rápidos: uma crise energética, que pode impactar a vida de milhões de brasileiros e de toda a cadeia produtiva nacional. Mas quais são as causas deste problema e o que as indústrias podem fazer para se prevenir e evitar todos os problemas relacionados à falta de energia elétrica em suas operações?
Biomassa: uma aliada na crise energética
Em maio deste ano, o governo federal emitiu um alerta de emergência hídrica para o período de junho a setembro relativo a cinco estados: Goiás, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Paraná e São Paulo, unidades da federação que estão localizadas na bacia do rio Paraná.
Primeiro alerta desta natureza em 111 anos de acompanhamento meteorológico no Brasil, o aviso se deu devido à previsão de um baixo volume de chuvas até setembro de 2021 que poderá reduzir, ainda mais, o já baixo nível de água nas represas destes estados.
Em função deste cenário, especialistas já apontam para possíveis apagões ou falta de energia. Segundo Adriano Pires, fundador e diretor do CBIE – Centro Brasileiro de Infraestrutura e um dos maiores especialistas em energia do País, “É difícil de afirmar se vai ter apagão ou falta de energia [no segundo semestre], mas que o risco está muito alto, não tenha dúvida quanto a isso”.
Ainda segundo o especialista, é possível que o Brasil enfrente dois problemas centrais já a partir de julho: o déficit de potência, que pode gerar cortes de carga, fazendo com que as cidades passem por cortes de energia justamente nos horários de pico do consumo; e o déficit energético, semelhante ao que causou o apagão energético de 2001.
Neste cenário, muitas indústrias já se movimentam para evitarem a paralisação de suas atividades devido à falta de eletricidade, pois o cenário é, de certa maneira, preocupante.
Segundo José Henrique Toledo Corrêa, vice-diretor do Ciesp, “A preocupação existe com falta de água e de energia, que pode repercutir na atividade industrial, embora as indústrias, a partir da última crise energética, passaram a adotar diversas medidas para redução de consumo e outras alternativas, como o reuso da água nas suas atividades produtivas”.
Muitas indústrias têm optado pela locação de geradores, mas esta é uma solução que apresenta dois problemas: o primeiro, é que é uma solução à curto prazo. O segundo é o custo ambiental do uso de geradores, que utilizam recursos não renováveis como os combustíveis: gás natural, gasolina ou óleo diesel.
Devido a todos esses fatores, o uso da biomassa se apresenta como uma solução triplamente interessante: diferente dos geradores, são uma solução permanente para as indústrias que querem diminuir a dependência da energia elétrica recebida das concessionárias. Além disso, a biomassa é uma fonte renovável de energia, com menor emissão de CO2, assim como de óxidos de enxofre. E mais uma vantagem: o uso da biomassa pode apresentar um custo inferior à compra de energia elétrica das concessionárias.
De acordo com um levantamento realizado pela Cogen – Associação da Indústria da Cogeração de Energia, as usinas de cogeração a biomassa têm capacidade de gerar, a curto prazo, uma produção adicional de 1,8 mil GWh além dos contratos vigentes nos mercados regulado e livre. O estudo mostrou também que em 2022, este número pode chegar a 3,5 mil GWh.
Segundo Newton Duarte, presidente executivo da Cogen, “Só em 2022, poderíamos gerar o equivalente a uma hidrelétrica de 800 MW em capacidade instalada”.
O Brasil conta hoje com 627 usinas de cogeração, com 19,01 GW de capacidade instalada, correspondendo a 10,8% da matriz elétrica brasileira (175,7 GW).
Mais que uma solução para a possível crise que se aproxima, a biomassa pode trazer uma energia mais econômica para as indústrias, gerando uma maior segurança energética, previsibilidade de custos (livre das bandeiras da energia elétrica via concessionárias) e sendo muito menos agressiva ao meio ambiente que as usinas e geradores a diesel.